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9 de abril de 2012

Cantando na Chuva faz 60 anos


Cantando na Chuva (Singing in the Rain). EUA, 1952.


Direção e coreografia de Gene Kelly e Stanley Donen. Metro. 102 min. Cor. Produção e letras de canções de Arthur Freed.

Roteiro: Adolph Green, Betty Comden. Fotografia de Harold Rosson. Direção musical de Lennie Hayton. Música de Narcio Herb Brown.

Com Gene Kelly, Donald O´Connor, Debbie Reynolds, Jean Hagen, Kathleen Freeman, Rita Moreno, Cyd Charisse, Millard Mitchell, Douglas Fowley, Dawn Addams, Kathleen Freeman, Mae Clarke, Lance Fuller, Snub Pollard, Elaine Stewart,

Sinopse: No fim dos anos 20, quando o cinema falado abala Hollywood, uma dupla de atores tem problemas com o Sistema Sonoro. Principalmente uma estrela agressiva e chata, cuja voz acaba sendo dublada pela namorada do galã.



Crítica: Considerado, sem maiores polêmicas, o melhor filme musical feito especialmente para o cinema em todos os tempos. Legítimo representante da Idade de Ouro do gênero na Metro, foi criado basicamente como pretexto para o produtor Arthur Freed (o gênio que reunia os melhores talentos do estúdio e fazia os melhores filmes musicais) explorar suas composições numa única fita. Ou seja, todas as canções são dele (e a que ele compôs especialmente para Donald O´Connor,Make’m Laugh, é uma cópia pouca disfarçada de Be a Clown, de Cole Porter, que este preferiu fingir que não percebeu a semelhança). Mas o roteiro é muito bem escrito e aproveita para fazer uma divertida sátira aos primeiros anos do cinema falado, quando as pessoas não sabiam como usar o novo sistema de som (que era cheio de imperfeições) e uma das atrizes tinha uma voz péssima e por isso precisava ser dublada.
A fita é basicamente uma homenagem ao próprio cinema, satirizando os “talkies” (como sempre Hollywood adora escrever cartas de amor a si própria). Os diretores parceiros e velhos amigos Stanley Donen e Gene Kelly conseguiram um equilíbrio entre os diversos números (deixando um espaço especial para o “gran-finale” que seria o Broadway Melody, também o nome do primeiro
musical da história e da própria Metro a ganhar um Oscar de melhor filme).
Na verdade, Donen havia sido antes assistente de Kelly e a dupla acabou se separando por ciúme, como normalmente sucede. Ainda assim Donen faria outros clássicos como Charada, Sete Noivas para Sete Irmãos e Um Caminho para Dois. De Kelly, nem é preciso se referenciar. Algumas canções são números do teatro vaudeville , alguns incidentes são inspirados em fatos reais (acontecidos com John Gilbert por exemplo) e as danças geométricas que aparecem são citações homenageando Busby Berkeley.
Todos os números parecem fluir naturalmente de uma história funcional, mas na verdade quem rouba o filme é Jean Hagen (1924-77), que faz o papel da estrela de voz de taquara rachada. Ela foi candidata ao Oscar de Atriz Coadjuvante, mas não há outra performance em sua carreira parecida ou que explique esse “tour de force” humorístico. Ela não fez grande carreira (o outro filme conhecido dela foi O Segredo das Joias, de John Huston, 1950, além de Meu Amor Brasileiro, com Lana Turner, e A Grande Chantagem, com Jack Palance). Terminou sua carreira na TV fazendo a mãe do show Make Room for Daddy!, de onde tirou o talento para este papel nem se imagina.
Outra grande presença é a de Donald O´Connor (na trama, ele e Kelly eram parceiros de teatro, mas Kelly fez sucesso no cinema e ele acabou sendo seu assistente). Seu número Faça Eles Rirem realmente é um show-stopper para a fita. Naturalmente há dois outros pontos altos, o grande balé do final que conta uma história (a ascensão de um jovem bailarino que passa por muitas até conquistar a mulher fatal que sempre desejou), mas que é mais memorável pela presença de Cyd Charisse (excelente bailarina e uma das pernas mais perfeitas do cinema). E a música-título, que foi encenada de maneira perfeita por Kelly, no que deve ser provavelmente o melhor número musical de todos os tempos. Ao menos o mais querido e feliz.
Cantando na Chuva é a prova mais clara de que a gente sempre deve desconfiar do julgamento contemporâneo. O sucesso de hoje nem sempre é merecido e o fracasso na estreia pode ser uma grande injustiça. Veja o caso de Cantando na Chuva.



A grande novidade mesmo era um número musical de Debbie Reynolds, que havia sido cortado. Mostrava ela cantando diante de um outdoor onde aparece Gene Kelly, declarando seu amor. Seria importante na história porque é o único momento onde se fica sabendo que ela realmente conhecia ele no cinema (quando encontram finge o contrário) e está apaixonada. Fora disso, tem também cenas dos filmes onde apareceram algumas das canções que foram apresentadas na fita (inclusive versões de Singing em outros filmes, com grande elenco da Metro e até Judy Garland), galeria de fotos, dois documentários (What a Glorious Feeling e MGM Great Musicals: The Arthur Freed Unit at MGM), criticados por revelar pouca coisa de novo. E comentários em áudio de um dos diretores Stanley Donen, os astros Debbie, Cyd e Donald, os veteranos co-roteirista Betty Comden e Adolph Green, o diretor de Moulin Rouge, Baz Luhrman, o historiador Rudy Behlmer e a já falecida Katheleen Freeman (que faz a professora de dicção).
Não é segredo para ninguém que não gosto especialmente do vencedor do Oscar este ano, O Artista porque ele copia escandalosamente este filme, se apropriando da história e muitas situações. E que Cantando faz muito melhor do que os franceses. Ouso dizer que este longa é tão clássico por causa do número de Gene cantando e dançando na chuva. Não há quem não o tenha imitado em determinado momento na vida. Tentando reproduzir a alegria, prazer e sentimento transposto pela música e pelo ato de pisar na poça d´água livre e solto. Como só um filme musicado consegue nos fazer sentir.

Trivias: O papel de Cosmo foi escrito para Oscar Levant. O roteiro veio depois de terem sido escolhidas as canções. Uma ironia: embora o filme tenha como chave a ideia de que Kathy está dublando a voz de Lina, na verdade Debbie nessas canções foi dublada por outra, Betty Noyes. Mas é a voz de Debbie no número Lucky Star no final. Outro detalhe acabou sendo Debbie dublando Jean Hagen!
Reza a lenda que Gene Kelly insultou Debbie Reynolds por não saber fazer uma coreografia e teria sido Fred Astaire que a encontrou chorando debaixo de um piano e a teria ajudado. Na época, Debbie vivia com os pais e acordava as 4 da manhã para pegar diversos ônibus e às vezes tinha até que dormir no próprio set do estúdio. O negativo original do filme foi destruído por incêndio. O figurinista Walter Plunkett que trabalhou no cinema desde 1929, contou alguns fatos reais que foram usados. Jean batendo com o leque em Kelly é baseado em incidente semelhante que sucedeu em Bebe Daniels e John Boles em Rio Rita.
Muitas estrelas do mudo são parodiadas na cena de abertura Zelda Zanders - a "Zip Girl" - é Clara Bow, a "It Girl". Olga Mara é Pola Negri, e seu marido Barão de la Bonnet de la Toulon, uma refêrencia ao marido de Gloria Swanson, o Marques Henri de la Falaise de Coudray.-R.F. Simpson, chefe do estúdio, é obviamente paródia de Louis B. Mayer, com toques de Arthur Freed e o diretor também é baseado no excêntrico Erich von Stroheim.
Donald O' Connor admitiu que não gostava de trabalhar com Kelly porque ele era um tirano que gritava muito.
Um microfone foi escondido na blusa de Debbie Reynolds e durante um número de dança dava para ouvir seu coração bater, como o que sucede com Lina no filme. Foi votado em décimo lugar pelos melhores filmes de todos os tempos pela revista Entertainment Weekly. O American Film Institute, em 2007, o escolheu como o quinto melhor filme de todos os tempos. O orçamento do longa foi US$2,540,800. Foi sucesso e retornou US$7.7 milhões de lucro no lançamento original.



O papel de Lina Lamont foi escrito especialmente para Judy Holliday, que era amiga íntima dos roteiristas Betty Comden e Adolph Green e alguns detalhes foi extraídos de um show que fizeram junto com ela quando compunham o grupo The Revuers. Mas quando o filme foi feito Judy já era estrela por causa de Nascida Ontem, e a escolhida foi justamente Jean Hagen, que havia sido a substituta eventual dela na Broadway.
No primeiro roteiro, Rita Moreno como Zelda Zanders iria cantar I Got A Feeling You're Fooling, mas a canção foi usada numa montagem.
Depois de terminado o número Good Morning Debbie teve que ser carregada para o camarim porque havia machucado os vasos sanguíneos dos pés! Kelly decidiu que ele mesmo dublaria o som dos pés sapateando tanto dele quanto dela! Debbie diria anos mais tarde que fazer o filme e dar a luz aos filhos foram as coisas mais difíceis de sua vida. Só duas canções foram compostas especialmente para o filme: Moses Supposes(por Roger Edens, Betty Comden e Adolph Green e Make Em Laugh, por Arthur Freed e Nacio Herb Brown. Para esse número Kelly pediu para Donald reviver um truque que ele fazia quando jovem, subir numa parede e dar um salto. Contam que o ator que fumava na época quatro pacotes de cigarro por dia, teve que ser hospitalizado por uma semana exausto. Só que as tomadas que fez foram arruinadas por um acidente e ele voltou para fazer tudo de novo!
Howard Keel foi a primeira escolha para viver Don Lockwood, mas chamaram Gene quando o personagem deixou de ser um astro do faroeste para virar dançarino do vaudeville. As assistentes de Kelly no filme são duas bailarinas muito famosas depois, Carol Haney (The Pajama Game) e Gwen Verdon (estrela da Broadway de Can-Ca, New Girl In Town, Damn Yankees, Redhead, Sweet Charity e Chicago. Além de mulher e musa de Bob Fosse). Dizem que o sapateado de Kelly no número Singin' In The Rain foram dublados por elas. Gene, na verdade, queria Carol Haney para o papel de Kathy Selden. No primeiro script,Singin' in the Rain era para ser cantando por Debbie, Donald e Gene quando voltavam do fracasso do seu filme falado.
A canção You Were Meant For Me não estava previsto. A canção de amor deveria ser All I Do Is Dream Of You (a cena se perdeu, mas existe ainda a gravação de áudio dela). Foi este filme que transformou realmente a dançarina Cyd Charisse em estrela. A seguir fez A Roda da Fortuna, com Fred Astaire. Durantre a montagem que mostra Don e Cosmo viajando com seu número há duas fictícias: Oatmeal (Nebraska) e Coyoteville (New Mexico).
É como todos, um filme com erros de continuidade e anacronismos. Alguns divertidos. Falam muito em Variety, a bíblia de Hollywood, só que a história se passa em 27 e sua newsletter só começou em 33! Quando Lina encontra Roscoe na festa menciona algo como "Não te encontrei ontem na festa de Wallace Reid" (só que este ator morreu em 23, quatro anos antes!). Embora seja fundamental para a trama e o enredo, dublagem como aparece no final ainda não existia nem era possível em 1927! Só muitos anos depois.


Fonte: r7.com



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