"Brilho Eterno" - Filme para se ver abraçadinho:
Drama. Ao acordar de manhã com uma estranha sensação, Joel Barish resolve, no lugar de cumprir a rotina de ir para o trabalho, tomar um trem rumo a uma praia distante. Buscando algo que mude a sua vida, Joel acaba conhecendo Clementine, bela e inquieta jovem de cabelos azuis, com quem termina passando a noite. Quando vai visitá-la no trabalho, porém, surpreende-se não apenas ao ser recebido como um estranho, mas ao vê-la com um namorado. Confuso e desiludido, Joela vem descobrir que Clementine, utilizando os serviços da Lacuna Inc., empresa especializada em apagar as lembranças desagradáveis de seus clientes, simplesmente retirou-o de sua memória. Revoltado, Joel se submeterá ao mesmo processo para esquecê-la, só que, ao arrepender-se durante o procedimento, terá de lutar contra o tempo, numa desesperada fuga cerebral, antes que os técnicos da Lacuna eliminem todos os vestígios da passagem de Clementine por sua vida.
Em tempos onde pouco ou nenhum valor se dá à memória, um filme como esse torna-se, só pela temática, no mínimo importante. Co-escrito por Charlie Kaufman (o inquieto e instigante autor de Quero Ser John Malkovich e Adaptação), Brilho Eterno de uma Noite Sem Lembranças empreende novamente um curioso jogo narrativo cuja ação se dá principalmente dentro da cabeça do protagonista, conseguindo situar o espectador num cenário caótico de lembranças que se misturam, se atropelam, se atravessam e lutam para não se perder. A direção de Michel Gondry (francês diretor de clipes de Björk, Chemical Brothers e Rolling Stones, entre outros, e do longa A Natureza Quase Humana, também com roteiro de Charlie Kaufman) obtém pleno sucesso tanto nas soluções encontradas para mostrar o desmantelo na mente do protagonista, com suas idas e vindas entre lugares - e tempos - desconexos, as figuras sem rosto, as repetições e vertigens, quanto no trabalho com um elenco primoroso. Jim Carrey mostra mais uma vez (já o fizera em O Show de Truman e O Mundo de Andy) o quanto é bom ator. Ostentando timidez e introspecção até no timbre de voz, ele se revela comovente sem deixar de fazer rir. Verdade que interpretar alguém que se apaixona por Kate Winslet não é tarefa das mais difíceis, mas ainda assim seu Joel Barrish encanta pela fragilidade que tenta esconder atrás dos silêncios de que Clementine tanto reclama.
O filme envereda por vários caminhos para tratar da memória, e é feliz em mostrar o quanto o esquecimento é mais doloroso que a lembrança. Esquecer é perder. Sempre. E o roteiro diz isso de forma sutil, nos pequenos detalhes que irão provocar tanto a separação quanto o reatamento dos amantes que se transformaram em estranhos. Justamente os instantes de intimidade, seja para o carinho ou para o conflito, que ficam na lembrança não importando quantas folhas do calendário se tenha virado. No filme, é o encontro noturno sobre o lago congelado, são os apelidos, os diálogos espontâneos (às vezes parecendo improvisos), e mesmo as discussões e lavagens de roupa suja. É através da naturalidade, e do carisma da dupla de intérpretes, que o filme cativa o espectador.
Fonte: cienciashumanas.com.br
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